28/03/2020 - 18:05
No momento em que o número de mortos e infectados pelo novo coronavírus aumenta e países como Itália e Espanha avançam na contagem de seus mortos, cresce também outra estatística menos divulgada e bem mais alentadora: a dos curados. Em todo o mundo, pouco mais de 127 mil pessoas já se recuperaram da doença, segundo estudo da Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos.
O resultado do trabalho corrobora informações da Organização Mundial de Saúde (OMS)
de que 80% das pessoas contaminadas se recuperam apenas no tratamento,
sem precisar de internação e uso do respirador (entre 5% e 6%).
Os curados são homens e mulheres, jovens, adultos e idosos, que
apresentaram sintomas variados, desde tosse e falta de ar até perda de
olfato. Depois de um período de isolamento total, sem sair de casa –
incluindo os mais novos -, eles relatam o prazer de voltar a executar
atividades do dia a dia, como estar com os amigos e com a própria
família. Alguns são enfáticos: para eles, o isolamento social continua
sendo necessário mesmo depois da cura, para evitar que a pandemia avance
assustadoramente como em outros países.
“O pior sintoma é o medo”, afirma a advogada e conselheira federal da OAB Daniela Teixeira, de 48 anos, que contraiu a Covid-19
na Conferência Nacional da Mulher Advogada, realizada no Ceará, em 5 e 6
de março. “Fui homenageada na conferência, mas não vale o risco e o
desespero que passei depois. Tinha de ter ficado em casa.” Ela reforça a
recomendação da OMS para que as pessoas não saiam de suas casas nesse momento.
Na terça-feira, Daniela recebeu o resultado de seu último teste e não
está mais doente. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal, onde mora,
recomendou por precaução isolamento total até 31 de março. Depois, vida
normal.
Com o aumento da demanda pelos testes de coronavírus, muitos infectados
não chegam a fazer novo exame ao fim da quarentena. Segundo o Ministério da Saúde,
a orientação para os que testam positivo é de respeitarem o período de
14 dias de isolamento. Depois, se não tiverem mais sintomas, já podem
seguir as mesmas regras do restante da população.
Foi o caso da paulista Laísa Nardi, de 22 anos. Em fevereiro, depois
de ter voltado de uma viagem por Itália e Espanha, ela começou a ter
tosse, falta de ar e dor no corpo. “Achei que a dor fosse de carregar a
mochila nas costas”, disse. Poucos dias depois de procurar atendimento
médico, Laísa recebeu o resultado positivo do teste para o novo
coronavírus. Ela ficou em isolamento com seu ex-namorado, com quem tinha
entrado em contato depois da viagem, ao realizar sua mudança da casa
dele.
“Fiquei de quarentena com o ex”, brincou. “No dia em que a minha
quarentena acabou, andei 15 quilômetros no sol do meio-dia, sozinha,
para ter certeza de que eu não estava mais trancada no meu quarto”,
conta. Laísa já voltou a trabalhar.
O médico ortopedista Roberto Ranzini, de 54 anos, afirmou que quer se
voluntariar para trabalhar em algum hospital de campanha depois de
acabar sua quarentena. Ele atua no Hospital Israelita Albert Einstein, onde foi diagnosticado o primeiro caso da doença no País,
e disse acreditar que possa ter contraído o vírus de algum paciente.
Sem apresentar mais os sintomas iniciais que, para ele, incluíram
letargia e diminuição do olfato, Ranzini continua seguindo o isolamento
recomendado. “Temos de ter consciência da importância do isolamento,
senão vai ter uma explosão de casos e o nosso sistema de saúde não vai
aguentar.”
Embora ainda não existam estudos sobre o que acontece com pacientes
depois que eles se curam, a esperança dele é a de que, no fim da
quarentena, quando pretende ir de novo para a linha de frente da luta
contra a doença, ele já esteja imunizado contra o vírus. De acordo com o
infectologista Paulo Olzon, uma vez que a pessoa esteja recuperada do
coronavírus, não há nenhuma restrição. “É vida normal.”
Fonte: Jovem Pam / Estadão
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